quinta-feira, 19 de julho de 2012

Quando a arte humaniza - Maércio Lopes*


Xilogravura: Carlos Henrique 



Na arte do cordelismo,
Faço agora um estandarte,
Falando com otimismo
Sobre a importância da Arte,
Trazendo à tona argumentos,
Que mostram os fundamentos
Que o trabalho artístico tem
Pois liberta e humaniza,
O homem dela precisa
E deve lhe querer bem.

Para entender que a Arte
Humaniza e liberta,
Vamos tratar parte a parte
Com a mente sempre aberta,
Usando um ponto de vista,
Que é o materialista
Histórico e dialético,
Que examina a questão
Com bastante exatidão
Além do valor estético.

O materialismo ensina
Que a Arte é produção,
Que exige disciplina,
Trabalho e dedicação,
Um processo todo humano;
É portanto um grande engano
Considerá-la abstrata,
Fora da vida e da história,
É uma forma ilusória
Opinião insensata.

A Arte não é brinquedo,
Nem diversão, nem um dom,
Ela traz em seu enredo,
Da história o fino tom.
Quem à arte se dedica,
A um trabalho se aplica
Fazer arte é trabalhar,
Mas com plena liberdade,
Pois a criatividade
Tem aí o seu lugar.

Produzindo um objeto
De arte, o artista tem,
No seu jeito predileto
A forma que lhe convém
Para expressar livremente
O que está em sua mente,
Sem estar sujeito a nada,
Livre, solto, independente
Ele se sente contente,
Com a alma libertada.

Pois essa libertação
No nível individual
Pode ter sua extensão
Na esfera social.
A partir da Arte feita,
O artista dá a receita
De liberdade e de luta.
O público, apreciando,
Vai se conscientizando
Enquanto vê, toca ou escuta.

A Arte tem tal poder
Porque não é sem sentido,
Não é um fazer por fazer,
Um joguinho divertido,
Ou coisa da mente ufana;
É necessidade humana,
De expressão e liberdade.
Mesmo individual,
Toda arte é geral,
Fala da humanidade.

Toda a história está presente
Na obra de arte sim.
Mesmo o artista, inconsciente,
Não perceba ser assim,
Toda obra é partidária,
E por isso libertária,
Pois mostra um ponto de vista.
Um gesto individual,
Mediante o social,
Eis o poder do artista.

O artista ao trabalhar
Representa a humanidade,
E consegue condensar,
Com a sua habilidade,
O passado de seu povo,
Construindo algo novo,
Dentro da velha estrutura,
Isso vem como uma crítica
Pode ter noção política,
Dá outro rumo à cultura.

Por isso certos sistemas,
Desvalorizam a Arte,
Ou então criam problemas
Para ela em toda parte.
Reduzem sua potência
Para que sua competência
Não se faça por inteiro,
E passam com um trator
Sobre o ato criador,
Tudo isso por dinheiro.

O Capitalismo então,
Transforma em mercadoria,
O ato de criação,
Da arte se apropria,
Faz dela um luxo bem caro
Com o objetivo claro
De esvaziar seu sentido
Libertário e social
Só quem tem o capital
De Arte fica provido.

Mas Arte diz respeito
A todos da sociedade,
Todo mundo tem direito
De usufruir à vontade
Da artística produção,
Para que a criação
De um artista competente
Atinja e sensibilize
E dessa forma humanize
À platéia assistente.

A indústria cultural
Modela o gosto do povo,
Criando a arte banal,
Procurando algo novo
Que deixe o povo entretido,
Dependente e envolvido,
Sem querer se libertar.
Quem projeta esse esquema
São profissionais da “gema”,
Que só pensam em lucrar.

Mas arte que vem da mídia
Não melhora o ser humano,
É uma grande perfídia,
Causando atraso e engano.
Para ser libertadora
Não pode ser opressora,
Deve ser livre de fato,
Somente livre, o artista
Mostra seu ponto de vista,
Só esse modo é sensato.




A escola, nesse sentido,
Tem importância vital,
Fazendo ser conhecido
O ato individual,
Que prepara o cidadão,
Para ter atuação
Na sua sociedade.
Apreciando arte e fazendo,
Vai-se então desenvolvendo
Grande sensibilidade.

Sem ser sensível ninguém,
Pode ser de fato humano,
Por isso que a arte tem
Importância nesse plano.
Sua livre produção
Envolve a percepção,
Conhecimento e memória
Com arte o homem é capaz
De agir de modo eficaz,
Interferindo na História.


*Maércio Lopes Siqueira.
Nasceu em Santana do Cariri, aos 21 de novembro de 1977. Mora em Crato desde os cinco anos de idade. Graduou-se em Letras pela Universidade Regional do Cariri, em 2001. É mestrando em Filosofia na Universidade Federal da Paraíba. Professor, ingressou na Academia dos Cordelistas do Crato em 1999. Como artista plástico, dedica-se à xilogravura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário