quinta-feira, 19 de julho de 2012

A brincadeira vai começar - Josenir Lacerda*


Xilogravura: Carlos Henrique 


Prestem muita atenção
Escutem bater os sinos
O som de loas e hinos
E o pipocar do rojão
Com a peça da saudação
Tem início a brincadeira
Quando se hasteia a bandeira
E o povão ocupa a praça
O riso é servido em taça
Numa festa hospitaleira.
                 
E já começa o evento
De maneira fascinante
E nele cada brincante
Ao conduzir seu momento
Põe graça, amor, sentimento
Cumplicidade e união
O senso de comunhão
Une verso, canto e dança
Que simboliza a aliança
E alimenta a função.
                 
É rua que abriga a cena
Do grande show teatral
É o ator no gestual
Transformado quando encena
Numa efervescência plena
Parece que se reparte
Porém cola cada parte
Na construção da história
Ferro marcando a memória
Democratizando a arte.
                  
Luzes, fitas e tambores
Ondas de seda e cetim
Lábios em vivo carmim
Rito que afugenta as dores
Vestimentas multicores
Verdadeira alegoria
Que a imaginação recria
A fim de espantar o tédio
Manipulado remédio
Doce e eficaz terapia.
                  
São muitos os personagens
Variados figurantes
Extrovertidos brincantes                                                                                                                                                                                                                         Expondo as suas imagens
Ao retirar das bagagens
A qualquer hora do dia
A mais perfeita harmonia
Do atraente folclore
Que oferta brilho e colore
Feito um passe de magia
                    
Em cada grupo o poder
Reside na liderança
Empenho e perseverança
Que o brincante mostra ter
Trabalho, crença e lazer
Cerca o empoderamento
A função flui a contento
O grupo segue em cortejo
Culmina em dança e festejo
O grande acontecimento
                    
Do grupo, da brincadeira
Cada membro se envaidece
Não foge nem esmorece
Faz da arte alvissareira
Uma entrega verdadeira
Em prol do pertencimento
Acha incentivo e alento
Apoio, força e abrigo
Na parceria do amigo
O gesto de acolhimento.
               
Nesse mágico ambiente
Começa a atividade
Interação de verdade
Na hora se faz presente
Quem assiste até pressente
O que vai acontecer
E assim passa a entender
A arte de outra forma:
Algo que envolve  e transforma
O homem num novo ser
                 
Abre-se então a cortina
E o primeiro personagem
Surge cheio de coragem 
Perante o povo se inclina
Enxerga em cada retina
Jardim de paz e bonança
Lugar aonde a criança
Espalha luz e alegria
Sonho, riso e fantasia
E brinca de esperança
             
Causando atração e medo
Ele a cabeça levanta
Amedronta e até espanta
Quando surge no folguedo
Fogo na boca é segredo
Pra quem sabe desvendar
Eis que chega o Jaraguá
Com especial jeitinho
Ele diz que é bonitinho
E que sabe vadiar
                
O Mateus chega também
Cheio de penduricalhos
Os maracás e os chocalhos
Agita num vai e vem
A alegria que tem
Transfigura em doação
Retira do coração
E de forma convincente
Num gesto puro e contente
Divide sem distinção.
                 
Aparece a Catirina
Com sua roupa de chita
Vistosamente bonita
Auto estima ela ensina
Com traquejo de menina
Cobra voz, vez e espaço
Guarda um sonho em cada laço
E mil desejos no olhar
Que ao Mateus quer ofertar
Embrulhados num abraço.
                   
Tem cantiga e algazarra
Seja janeiro ou abril
No reisado ou pastoril
Na cadência da fanfarra
A alegria se agarra
Aos mestres, rei e rainha
Na encenação da lapinha
Côco e banda cabaçal
No cerne tudo é igual
Na mesma ideia se aninha.
                      
Em cada apresentação
O elo se faz mais forte
E busca do mesmo norte
Brincante se faz irmão
Estende e aperta a mão
Repassa boa energia
Veraz amizade cria
Abraça sem ter assombro
Porque sabe que no ombro
Do companheiro confia.
                      
É festança divertida
Mas requer integração
Abraço, dedicação
Para ser bem sucedida
Vontade comprometida
Senso de comunidade
Respeito à diversidade
Fidelidade à essência
Pois no grupo a convivência
Reconstrói a liberdade
                        
Nas asas do imaginário
A fantasia se solta
Aplaca o medo e a revolta
Faz da arte um santuário
Um reduto, um relicário
De brincantes e cantores
Iluminados em cores
Como se a primavera
Pra compensar a espera
Transformasse pedra em flores.

  
*Josenir Alves de Lacerda
Natural de Crato-Ceará, onde reside
Poeta ,cordelista, pertencente a Academia dos Cordelistas do Crato-ACC
e a Academia Brasileira de Literatura de Cordel-ABLC.
Autora do cordel: "O Linguajar Cearense", utilizado didaticamente em livros e apostilas.
Co-autora do livro/cordel "Segredos da Natureza" (Editora Ensinamento-Brasília).
Contatos: (88) 3521.0827 - 9624.3140        

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